quinta-feira, 2 de julho de 2020



Das Schicksal,
das will heissen:
der Sonne Peitsch und Zuegel

Hölderlin






Como gamo
ideias esgalhadas

é tudo quanto sei
do que não é o um

do que foi fugaz
e frágil

às miras
de quem as cabeças como
troféus queriam

é tudo quanto sei
do que não foi unicórnio

mas esgalhados
labirintos



...

Pois isto a árvore tem de mim:
raiz relâmpago

Pois o que me prende inteiro
ao meio me parte

Pois o que é muda sombra
é também eletricidade

Pois o que é ser caminho
é no caminho estar

Pois o que não é da fome
é a carne abrasar

Pois isto a boca tem do machado:
o sorriso do corte



...

Auto-retrato, cabelo ceifado rente
Orelhas
De lume crepita a cor.

Pégados corvos entre seres amarelos
a rapina de retinas

olhos: girassóis

Corvos de cor o estojo do arco-íris
aprisionado
em línguas líquidas

Lençóis de triste trigo & a realidade
debulhada
em moinhos de vento

Olhos deitaste quantos

A realidade era o teu joio
e de braços abertos, espantalho
Guardião de tintas íntimas

Trigo, pêlo de bicho
O teu cão amarelo em côdeas
de tua mão

A textura do verso longe
dos sulcos
desse arado onírico:

Espátula,
carícia em terra de cor.

Como os girassóis tudo se curva

e fica a gravitar.
A loucura do teu nome

A memória, vernissage de feridas
expostas
Paisagem que amarelece

Cavalete em cancela de grãos
Signos e crinas
A manjedoura dos ares

Os sóis dos teus terçóis
Ciprestes
de labaredas, lábios de fogo

Trigal com Corvos
Um grão liberta a cor de dentro

Um grão de som. E o dia
contou todos os corvos que havia

Um grão cor de corvo. Um grão
cor de chumbo.





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